domingo, 26 de maio de 2013

Onde tudo começou



Meu nome é Vanessa, tenho 33 anos e sou mãe de uma autista, consciente desde Dezembro de 2012. 
 Maria Eduarda nasceu de um parto tranquilo sem
nenhuma complicação. Pesando 3,060 kg e medindo 48cm. Foi um bebê extremamente 
tranquilo, dormía praticamente a noite toda. Não teve cólicas, não trocou o dia 
pela noite, foi o bebê dos sonhos!  Até o sexto mês de idade não aparentava nada 
de diferente comparado à uma criança "normal". Aos sete meses de vida notei que 
Duda era muito distraída. Não respondia a alguns estímulos sonoros e produzia 
uns sons estranhos. Desconfiamos até que pudesse ser alguma deficiência no 
aparelho auditivo. Levamos pra fazer um check-up completo, no qual não acusou 
nenhuma deficiência. Isso ocorreu quando ela tinha mais ou menos um ano e meio 
de vida. Me preocupava muito a falta de comunicação dela e o desinteresse por 
outras crianças. Tenho outra filha de 5 anos "normal" e sempre fazia comparações 
de desenvolvimento, e por isso minha preocupação. Eu já tinha a certeza que algo 
estava errado e procurei resposta desde então. O pediatra de costume me 
aconselhou a esperar mais um pouco, que com um ano e meio ainda era cedo pra ter 
algum diagnóstico exato, que até completar 2 anos, poderia mudar muita coisa. 
Segui o conselho do pediatra e com 2 anos completos eu estava lá, aflita 
novamente sem nenhuma evolução. Duda não falava nenhuma palavra, não chamava 
mamãe/papai, não apontava quando queria algo, simplesmente tentava fazer tudo 
sozinha. O pediatra ainda achava cedo e me pediu pra esperar a consulta de três 
anos de idade que é feita aqui no Japão em todas as crianças. Foi nessa consulta 
que acenderam um alerta (alerta que em mim já estava aceso há anos) que ela 
tinha realmente algo de diferente.  Foi quando me mudei pra cidade de Toyota, 
que possui um centro de tratamento para crianças com qualquer tipo de 
deficiência mental ou física. Passamos por uma consulta com uma psicóloga e ela 
alertou pra hiperatividade da Duda. Ela tinha todo o comportamento de uma 
criança hiperativa e precisava de terapias pra tentar mudar esse comportamento. 
Ela me explicou que eu teria que passar a frequentar as aulinhas para crianças 
especiais todas as semanas, 2 vezes por semana. Caso não apresentasse nenhum 
progresso, marcaríamos consulta com a psiquiatra infantil. Feito. Frequentei 
todas as aulas junto com a Duda, num período de 4 meses e o quadro de 
desenvolvimento dela só regredia. Foi quando as professoras responsáveis viram 
mesmo que tinha necessidade de passar pela psiquiatria infantil, mas, como essa 
psiquiatra é muito procurada, havia uma fila de espera de 1 ano e 3 meses. O 
caso da Duda era realmente urgente. Por sorte, tivemos desistência de uma mãe e 
nos passaram na frente. (Aqui eles fazem isso conforme o grau de necessidade). 
Marcaram a consulta no dia 10 de Dezembro de 2012. Foi a noite mais tensa da 
minha vida. Finalmente eu teria uma resposta pra acabar com minha preocupação. 
Eu pensava muito em DDA (distúrbio de déficit de atenção), mas nunca imaginei 
que pudesse ser autismo. Na verdade, nunca tinha lido nada sobre essa disfunção. 
E autismo pra mim, era aquela criança isolada num canto e que vive em outro 
mundo. Olhem o que a falta de informação causa! Passei a noite em claro. 
Amanheceu segunda-feira e fomos pra consulta. Relatei todo o crescimento da Duda 
para a psiquiatra, ela me fazia perguntas e discretamente observava o 
comportamento dela durante a consulta, que durou quase duas horas ininterruptas.
Foi quando ela olhou pra mim e disse: "Ela é uma criança hiperativa mas não 
apresenta comportamento típico DDA. Sua filha é AUTISTA." Nesse momento, perdi o 
chão. Não conseguia nem prestar atenção nas observações que a médica fazia. Como 
se minha vida tivesse acabado ali, naquele momento. Meu único pensamento era: "E 
se eu morrer hoje, quem vai cuidar dela pro resto da vida?" Duda tem pai, que é 
presente na vida dela e que igualmente se preocupava com seu comportamento, 
temos familiares no Brasil, mas, é como se eu sentisse que ela precisa muito 
mais de mim que de qualquer outra pessoa. É um sentimento que só quem é mãe 
entende. Cheguei em casa e chorei tudo que ficou preso durante a consulta. 
Depois de chorar, fui pesquisar, pesquisar, pesquisar. Fiquei com vergonha de 
mim mesma por nunca ter lido nada sobre essa disfunção, por nunca ter pensado na 
possibilidade. Duda é autista clássica. À partir dai começo minha vida nova, num 
mundo autista. 

3 comentários:

  1. Adorei! Vou tentar acompanhar sempre ;)
    Beijos!!!

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    1. Herika, obrigada! Seja bem vinda ao nosso mundo! Beijos!

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  2. Oi tudo bem, Lí o seu blog e eu tbm tenho um filho autista e um blog, podemos trocar informaçoes http://meufilhoasperger.blogspot.com.br/

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